Uma concha vale por uma orelha, é uma metáfora. Um amontoado de peixes vale pela água – na qual vivem – é uma metonímia. O fogo torna-se uma cabeça flamejante, é uma alegoria.
Enumerar os frutos, os pêssegos, as pêras, as cerejas, as framboesas, as espigas para dar a mostrar o verão, é uma alusão. Repetir o peixe para fazer dele aqui um nariz e ali uma boca, é uma antanaclase (repito uma palavra fazendo-a mudar de sentido). Evocar um nome por outro que tem a mesma sonoridade é uma anominação: evocar uma coisa por outra que tem a mesma forma (um nariz pelo rabo de um coelho) é fazer uma anominação de imagens, etc. (Barthes, O óbvio e o obtuso, p. 137)
Num primeiro momento vemos uma analogia banal, mas num segundo tempo ela torna-se louca, por que é explorada radicalmente, a comparação torna-se metáfora: o capacete não é como uma travessa, é uma travessa. (Barthes, O óbvio e o obtuso, p. 133)
A sua maneira, Arcimboldo é também ele um retórico: pelas suas cabeças, lança no discurso da imagem todo um pacote de figuras retóricas:
a tela torna-se um verdadeiro laboratório.
Remédios Varo
O Palíndromo é outra figura de retórica presente em suas obras. O verdadeiro palíndromo nada muda na mensagem que se lê idêntica num sentido e no outro como nas figuras do baralho. Mas quando invertemos a figura de Arcimboldo o sentido muda, o prato torna-se cozinheiro.
“Tudo é sempre idêntico” diz o verdadeiro palíndromo.
“Tudo pode tomar o sentido contrário” diz o palíndromo de Arcimboldo. (Barthes, O óbvio e o obtuso, p. 142)
Um falso palíndromo é também um paradoxo: parecendo que reforça o mesmo, ele apenas afirma-se como outro. Afirma para negar e vice versa, centrando o caráter reversível no sentido e não num simples jogo de palavras.
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