Uma relação com o conto popular como a descrição de Mme d’Aulnoy:
"Despiu-se e entrou no banho. Imediatamente, os pagodes puseram-se a dançar e a tocar os instrumentos: uns tinham tiorbas feitas de uma casca de noz; outros tinham violas feitas de uma casca de amêndoa, pois era preciso proporcionar os instrumentos Segundo o seu tamanho.”
Richard Doyle
As cabeças compostas por Arcimboldo participam assim do conto de fadas: das suas personagens alegóricas, poder-se-ia dizer: uma tinha um cogumelo como lábios, um limão como medalhão, outra tinha uma pequena abóbora como nariz, etc.
Por trás da imagem gira uma narrativa maravilhosa: julgo ouvir Perrault descrever a metamorfose das palavras que saem da boa e da má rapariga, depois que uma e outra encontraram a fada:
da mais nova, em cada frase, são duas rosas, duas pérolas e dois grandes diamantes que saem dos seus lábios,
e da mais velha, são duas víboras e dois sapos.
As partes da linguagem são transmutadas em objetos, da mesma maneira, o que Arcimboldo pinta não são de modo nenhum coisas, antes a descrição falada que um contador maravilhoso daria delas: ilustra o que no fundo já é a cópia, a maneira da linguagem, de uma história surpreendente. (Barthes, O óbvio e o obtuso, p.135)
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