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Esse é um jogo escrito de trás para frente, de um lado para o outro, em zigue zague. E o leitor, como um jogador, pode escolher que caminho tomar nesse labirinto, ou bosque de caminhos que se bifurcam. Nos corredores laterais nossos convidados especiais comentam a partida.
Todos podem escrever, citar e indicar novos caminhos, nessa caixa de surpresas móvel e mutante. Envie suas sugestões através dos comentários abaixo de cada post. Siga os coelhos brancos.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Ecfrase

Francisco Guilherme de Almeida Jesus

A ecfrase é uma técnica retórica que corresponde a representação verbal de uma representação visual, como as cabeças compostas de Arcimboldo, como o poema “num bairro moderno” de Cesário Verde (1877).


(...) Subitamente – que visão de artista! –
Se eu transformasse os simples vegetais,
À luz do sol, intenso colorista,
Num ser humano que se mova e exista
Cheio de belas proporções carnais!?

E eu recompunha, por anatomia,
Um novo corpo orgânico, aos bocados.
Achava os tons e as formas. Descobria
Uma cabeça numa melancia,
E nuns repolhos seis enjetados.

As azeitonas, que nos dão azeite,
Negras e unidas, entre verdes folhos,
São tranças dum cabelo que se ajeite;
E os nabos – ossos nus, da cor do leite,
E os cachos d’uvas – os rosários d’olhos.

Há colos, ombros, bocas, um semblante
Na posição de certos frutos. E entre
As hortaliças, túmido, fragrante,
Como dalguém que tudo aquilo jante,
Surge um melão, que me lembrou um ventre.

E como um feto, enfim, que se dilate,
Vi nos legumes carnes tentadoras,
Sangue na ginja vivida, escarlate,
Bons corações pulsando no tomate
E dedos hirtos, rubros, nas cenouras (...).

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