Como um poeta barroco, Arcimboldo explora as curiosidades da língua, joga com a sinonímia e a homonímia. A sua pintura tem um fundo de linguagem, a sua imaginação é propriamente poética: não cria os signos, combina-os, permuta-os, extravia-os – o que faz exatamente o operário da língua. (Barthes, O óbvio e o obtuso, 133)
Outono
Na figura do outono o olho é feito de uma pequena ameixa.
Em francês a prunelle (botânica) torna-se a prunelle (ocular).
Ele quer mostrar o nariz?
A sua reserva de sinônimos oferece-lhe um ramo, uma pêra, uma abóbora, uma espiga, um cálice de flor, um peixe, um rabo de Coelho, uma carcaça de frango.
Quer mostrar uma orelha?
Só tem de ir a um catálogo heteróclito donde tira um cepo de árvore, o reverso de um cogumelo, uma espiga, uma rosa, um cravo, uma maçã, um búzio, uma cabeça de animal, o suporte de uma candeia.
É uma barba que ele que dar a sua personagem?
Eis aqui um rabo de peixe, antenas de camarão.
Será este repertório infinito?
Não, se nos mantivermos nas alegorias pouco numerosas que chegaram até nós; trata-se quase sempre de frutos, de plantas, de comestíveis. Mas só o conceito limita a mensagem;
a imaginação, essa, é infinita, de uma acrobacia cujo domínio é tal que a sentimos pronta a apoderar-se de todos os objetos. (Barthes, O óbvio e o obtuso, 141)
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